Política da UE. Exclusivo: Letta apela a uma estratégia industrial europeia para competir com EUA

Enrico Letta critica a falta de caminhos-de-ferro europeus de alta velocidade
Enrico Letta critica a falta de caminhos-de-ferro europeus de alta velocidade Direitos de autor AP Photo
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De  Jack Schickler
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Artigo publicado originalmente em inglês

O relatório sobre o futuro do mercado da UE, da autoria do ex-primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, que a Euronews teve acesso, defende a adoção de regras mais rigorosas para unificar os mercados das telecomunicações, da energia e dos serviços financeiros e um novo código europeu das empresas.

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A União Europeia  precisa de uma estratégia industrial própria para fazer face ao apoio agressivo dos Estados Unidos, segundo um relatório do antigo primeiro-ministro italiano Enrico Letta, a que a Euronews teve acesso a 18 de abril.

Os países da UE poderão ser obrigados a contribuir para o financiamento de iniciativas pan-europeias, numa altura em que o bloco enfrenta um crescimento lento, o que pode provocar receios de uma guerra global de subsídios.

"A UE tem de intensificar os seus esforços para desenvolver uma estratégia industrial competitiva capaz de contrariar os instrumentos recentemente adotados por outras potências mundiais, como a Lei de Redução da Inflação dos EUA", diz um projeto de introdução ao relatório de Letta, com muitas empresas europeias tentadas pelos subsídios verdes do governo de Washington.

Depois de anos em que as regras de concorrência da UE foram enfraquecidas para responder à pandemia, o bloco precisa de ser mais rigoroso, disse Letta, com uma aplicação nacional mais forte, associada a um "mecanismo de contribuição para os auxílios estatais" que exige que os membros da UE financiem "iniciativas e investimentos pan-europeus".

O Conselho Europeu apelou “à apresentação de um relatório independente de alto nível sobre o futuro do Mercado Único na sua reunião de março de 2024 “, na cimeira de junho de 2023. Enrico Letta foi o convidado para a tarefa e viajou por toda a Europa, e além dela, procurando reunir informações e contribuições.

Os próximos anos devem dar prioridade ao planeamento, financiamento e implementação de um grande plano para ligar as capitais europeias através de comboios de alta velocidade.
Enrico Letta

Unificação de mercados

Letta apela também à unificação de mercados como o financeiro, o da energia e o das telecomunicações, até agora considerados demasiado sensíveis para serem geridos a partir de Bruxelas, a par de um financiamento adicional para os transportes.

"Os próximos anos devem dar prioridade ao planeamento, financiamento e implementação de um grande plano para ligar as capitais europeias através de comboios de alta velocidade", afirmou, depois de ter visitado 65 cidades europeias e de ter ficado indignado com a falta de opções ecológicas de transporte.

Letta deverá apresentar as suas conclusões numa cimeira dos chefes de Estado e de governo dos 27 paises, em Bruxelas, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, parece estar recetivo.

"O mercado único tem sido negligenciado nos últimos quatro anos", disse Michel aos jornalistas, na semana passada, considerando a regulação económica como a fonte da "prosperidade, poder e autonomia" da Europa.

Isto pode ser entendido como uma crítica à sua rival Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia desde o final de 2019, embora alguns sejam rápidos a salientar que muitas reformas propostas para a tributação e os mercados de capitais foram bloqueadas pelos ministros dos governos da UE.

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